Precisamos falar sobre as paixões da alma

terça-feira, agosto 01, 2017



Nunca esqueço a definição usada por minha professora de Psicopatologia para a definição da disciplina: estudo das paixões da alma.

Pathos, do grego, paixões, sofrimento.

Quando falamos das dores da alma, ou no vulgo português, das doenças psicológicas, estamos apenas resumindo em fatos o que não se pode explicar. As paixões da alma são invisíveis aos olhos, imunes a teorias, incompreensíveis aos desavisados.
Talvez elas sejam as maiores do que aparentam, nos imobilizam de tal forma que não conseguimos explicar e as pessoas tendem a não enxergar a profundidade do que está acontecendo.

Na verdade eu escrevo não somente como uma Psicóloga que enxerga o outro lado da moeda, mas também como uma das vítimas dessas paixões tão intensas.
Já são cinco anos lutando diariamente com as consequências de um relacionamento abusivo que minou minha confiança, meu desejo pela vida e, principalmente, fragmentou completamente quem eu era.
Sou uma velha amiga da depressão, das noites insones, da falta de fome, dos ataques de pânico e ansiedade. Convivo tranquilamente com taquicardia, falta de ar, pensamentos torturantes, repetitivos, conspiratórios. 
E quem me olha de longe sequer imagina que meus demônios me queimam na fogueira todos os dias antes de dormir.

Eu reclamo demais, falo demais, me exponho demais. 
Escuto críticas repetidas sobre como eu não deveria falar sobre isso, como eu me afasto e me isolo e isso consequentemente faz com quem as pessoas se afastem. 
Ninguém entende quando eu não respondo, ou quando respondo rápido demais nas redes sociais. Ninguém entender minha falta de vontade de conversar pessoalmente e minhas reclamações por me sentir sozinha.
Chamam-me de negativa, de exagerada, dramática, imatura. Consideram-me difícil de lidar no momento de crise.

O que ninguém sabe é que não é uma opção viver preso dentro da própria cabeça e o quanto as críticas só destroem um pouco mais da nossa confiança.
Tem dias que é difícil fazer a coisa certa, tem dias que é impossível fazer qualquer coisa.
Hoje eu sei como melhorar, eu sei como lidar com os comentários ácidos e como transitar entre o isolamento e a proximidade, mas essa regra não se aplica a todo mundo.

Então, por favor, não desistam de alguém que precisa que lutem por ele. Ninguém é obrigado a conviver com alguém difícil, mas acredite, é mais difícil ainda ver-se sozinho por não conseguir ser melhor do que é.
Não é como se não quisessem que passasse, é como se não conseguissem.
Imagine-se amarrado a sua própria condição, sentindo que quando mais luta, mais afunda... Esse é o sentimento mais comum.

E se você tiver dúvida do que fazer? Faça o seu melhor.
Ame. 

O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não se vangloria, não se ensoberbece.
Não se porta inconvenientemente, não busca seus próprios interesses, não se irrita, não suspeita mal; não se regozija com a injustiça, mas se regozija com a verdade.
Tudo sofre, tudo espera, tudo suporta 
- 1 Coríntios, 13: 4-7.

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