Encontrei essa frase perdida em minhas anotaçoes, mas soube imediatamente ao que se referia. A quem. 

E todos os dias abro meus olhos depois de ter encontrado os seus em meus eternos pesadelos que não me deixam ter uma noite de paz.

Será que você poderia ir embora de uma vez por todas?

Algumas lágrimas de frustração escorrem por meus olhos, meu passado nunca vai me perdoar e deixar livre para desenhar um futuro mais colorido?

Quantas vezes ainda terei que pagar por erros que não foram minha culpa, mas foram por minha causa?

Aumento o volume da música ao tempo que aumento o fluxo de raiva correndo por minhas veias.

Existe alguma chance de felicidade para mim ou ela ficará para sempre presa no espectro de noites que nunca mais voltarão?

Não me permito acreditar que exista apenas uma chance. Uma chance apenas para amar, para ser feliz. Não acredito em amor verdadeiro, não acredito em amor da sua vida.

Acredito em construção, acredito em paz, acredito em uma vida menos severa do que essa que se apresenta, feita de chances únicas e erros imperdoáveis.

Fazia tempo que não escrevia com tanta raiva.

Não me entendam mal, o passado é o início de um fluxo contínuo. Ele é presente e futuro. Sem ele não há o agora.

O que não admito é que ele seja meu limite e não minha liberdade. Que ainda encontre formas de ter poder sobre o que vivo neste momento.

Pessoas falam sobre meus traumas, minhas lutas, curiosamente o que me ainda me assombra são os dias ensolarados. Os dias que deixei ir por ter acreditado que nunca saíria da escuridão, por não ter contado o mal que assolava minha alma.

E as metáforas são todas para dizer que há muitos anos abri mão de quem amava por simplemente não suportar mais vê-lo me amar e sofrer. O amor não podia ser assim.

Gostaria que um dia ele encontrasse esses textos e dissesse que entende. Queria um dia enviar texto a texto. Gritar palavra por palavra e então deixar ir para sempre.

Mas o passado é um fluxo contínuo, ele nunca se vai.

Os batimentos aceleram nas veias, sem relação com uma crise de ansiedade.

Checo o pulso novamente, sem acreditar no que está acontecendo, não pode ser verdade. Duas semanas atrás estava em uma chamada de vídeo com minhas amigas, reafirmando que todos os muros continuavam erguidos para qualquer um que se aproximasse. 

Quem feriu meus muros? 

Conferi meu pulso pela terceira vez antes de escrever uma mensagem. Era ridículo que alguém como eu me permitisse passar por isso. Era mais ridículo ainda saber que não era a primeira vez naquela conversa.

Meu humor estava detestável, exceto que não estava e era isso que me assustava. 

Digitei um texto com alguns erros de português, reli, apaguei, digitei novamente e enviei. Continuei segurando o celular em frente os olhos, aguardando a resposta e eu queria que fosse imediata. 

Não era, não havia como ser. 

Abri uma barra de chocolate e comecei a comer enquanto assistia TV, finais de semana eram entediantes havia algum tempo e minha solidão me permitia certos hábitos alimentares sem prévios julgamentos. E nem posteriores.

O celular vibrou ao meu lado, mas eu já estava distraída com outra coisa.

Continuei no meu exercício de zumbificação olhando para imagens coloridas quando lembrei dos meus medicamentos. Ansiedade as vezes precisa ser medicada, baixa imunidade também. 

Aproveitei a oportunidade para conferir minhas mensagens de texto. Outro acelerar no pulso, um sorriso relutante e uma sensação de alívio.

Enjoei da TV, escolhi uma playlist para começar a ler mais um dos meus livros clichês. 

O tempo passa despercebido entre as páginas do livro que também me causam a mesma aceleração de antes, mas dessa vez não preciso me preocupar, não é real.

Isso significa que da outra vez era realidade? 

Fecho o livro, meus pensamentos aceleram, checo o celular novamente e percebo que não respondi. Escrevo e apago algumas vezes novamente, mas no fim sou vencida pela estranha sensação de anestesia que os medicamentos me dão.

Exceto que não estou medicada. 

Ainda não inventaram medicamentos que me ajudem a vencer a Philophobia.