Eu quero correr para longe de todos os pensamentos que se repetem exaustivamente em minha mente atordoada por seu doce sorriso que ainda me confunde e me conforta.
Quero gritar porque me falta o ar ao tentar entender esses sentimentos contraditórios que me impulsionam a ir e me imploram para ficar.
Quero desaparecer entre as lágrimas e o tecido do sofá, que as vezes me abraça e as vezes me engole, enquanto minhas dúvidas sobre o que vale a pena só aumentam e nunca diminuem.

Minhas noites mal dormidas nada tem a ver com antigos pesadelos, mas com uma estúpida e inebriante decisão de continuar, como se dormir pudesse quebrar todo o encanto.
As músicas ressoam com mais energia, as cores brilham com mais intensidade. Nada disso parece possível, não em tão pouco tempo, não desse jeito, não dentro dessas condições.
Mas é.
Até minhas lágrimas já não são sobre uma dor destrutiva e injusta, mas sobre uma saudade serena e um medo real.

E eu continuo me perguntando o que fazer? Ouvir conselhos nunca foi meu forte, mas o medo que me paralisa é meu próprio conselho.
E todos dizem que eu não devo ser honesta, que eu não devo ser fraca, que eu não devo sentir. Porque sentir me arruína em todos os aspectos do meu ser. 
Mas mesmo assim eu continuo sentindo e o que eu sinto não é silencioso, tem voz, tem fome, tem força. Não quer ficar preso, quer liberdade.
Eu quero liberdade para depois de tudo, só por um momento, não sentir tanto medo de simplesmente viver. Libertar-me de continuar criando muros logo com quem quero construir pontes.
Ser livre para poder ser honesta comigo, para não ser tão racional, tão fria, tão equilibrada, tão morna. 

E esse desejo de ser novamente a protagonista da minha vida e tomar minhas decisões consequentes ou não, cresce a cada instante e me domina um pouco mais.
Não posso negar que não tenho medo da dor, das mil chances de tudo dar errado... mas tenho ainda mais medo de perder algo bom por culpa do que já foi ruim.
A vida não pode ser um conta gotas quando se tem um oceano a sua disposição.