Jogando fora alguns papéis antigos, encontrei uma folha meio amassada com seu nome dentro de um coração.

Como uma chave de portal, minha mente voltou para outro lugar e outros tempos que eu já nem lembrava que existiram, em meio a uma rotina agitada.

Pequenos fragmentos de lembranças me fizeram sorrir  e por incrível que pareça, a música que falava do meu sonho adolescente começou a tocar.

Será que você se lembra que eu subia na pontinha dos pés para te beijar?

Ou de como me deixava constrangida quando meu olhar cruzava com o seu e você piscava sem o menor pudor, me fazendo corar...

Cheguei a pesquisar se seu time jogou hoje, eu fazia isso todas as quartas e domingos e percebi que seus vícios nem me incomodavam tanto assim.

Lembrei das promessas que fizemos e que nunca nos importamos em não cumprir, os lugares que combinamos visitar juntos e das conversas que nunca tivemos.
Esqueci, por alguns instantes, a mágoa e a raiva para me sentir inundar mais uma vez pelo sol que irradiava daqueles dias que hoje vejo que nunca existiram.
Comecei até a procurar o que deu tão errado...

Você nem deve imaginar o que me causou ou o estrago que deixou para trás.
Mas talvez, algum dia, você também remexa em uma gaveta velha e encontre alguma das minhas cartas, ou qualquer coisa que deixei em sua casa e passe por sua cabeça os mesmos pensamentos.
Talvez você também se questione, por motivos diferentes, se valeu a pena.

Pensei em escrever uma mensagem, mas lembrei que você não se importa, o que me fez lembrar do porque eu também deixei de me importar.
Foi então que percebi uma triste verdade, tudo nessa vida começa e termina. A morte é inevitável até para o mais puro dos sentimentos.

Mas por alguns instantes, enquanto segurava aquela folha rabiscada no mês de maio, senti que era eu mesma novamente.
O instante passou, e tudo voltou ao normal.
Sem emoção, sem cores e sem dores.