Precisamos falar sobre a Baleia Azul
sábado, abril 22, 2017
Sim, nós precisamos.
Tenho visto uma quantidade absurda de
postagens em minhas redes sociais com opiniões baseadas em argumentos pessoais,
falando sobre a temática.
Depressão, ansiedade, suicídio e alguns
outros problemas de origem emocional e psicológica tem sido temáticas comuns
nos últimos tempos. Isso nos remete a dois fundamentais pontos: banalização do
assunto e, sua promoção.
Vivemos tempos de uma tristeza proibida,
ela não pode ser divulgada, mas aqui entramos no ponto em que a tristeza
torna-se patologia e as paixões da alma começam a nos dominar.
A internet é um poderoso meio de acesso a
informações, o que pode ser utilizado para uma conscientização ou para a adesão
exacerbada de práticas que acabam trazendo muitos danos colaterais.
A divulgação de informações de suicídio,
seja em formato de notícia, seriado, postagem no facebook ou o amigo da prima que comentou que conhece alguém que
cometeu, pode ser um fator de grande risco.
É cientificamente comprovado que pode-se
causar um "efeito dominó", incentivando pessoas que já possuem a
ideia, mas a total omissão do assunto também é uma negligência.
Nossos jovens estão morrendo e eu não me
excluo da estatística, sem o amparo psicológico necessário eu poderia ser uma
dessas notícias ocultadas.
O jogo da Baleia Azul é uma das maiores
atrocidades que eu tive a oportunidade de ver em meus poucos 24 anos. Nascido
na Rússia, o jogo é formado por uma lista de diversas tarefas dadas por um
"curador", sendo que a final é a consolidação do suicídio.
Tenho lido muito sobre a temática e vejo
constantemente relatos de jovens que entraram no jogo por sentirem-se tristes,
vazios, solitários e buscarem pertencimento ou alguma motivação.
O jogo tem um valor afetivo-emocional para
quem participa, cria um elo de necessidade para o jogador e, ao mesmo tempo, o
incentiva a consolidar os pensamentos de suicídio. Ele faz parte de um grupo
que, assim como ele, também passa pelas mesmas situações.
O que leva alguém a jogar para tirar a
própria vida?
Não posso definir, cada sofrimento é único
no âmago da pessoa, nenhuma dor é mensurável, maior ou menor. Mas um fato me
chama a atenção: a faixa etária atingida pelo game é, principalmente, a de
adolescentes.
A pergunta então se torna outra: o que tem
levado nossos jovens a tal ponto?
Podemos listar diversos fatores: bullying, falta de afeto,
ambiente familiar instável, relacionamentos abusivos com amigos ou namorados,
drogas, pressões, enfim, uma somatória de itens.
Vale lembrar que o adolescente é um
sujeito em fase de transição, lutando por um reconhecimento na sociedade adulta,
mas considerado inexperiente demais para isso. Ao mesmo tempo é exigido dele
uma postura que luta contra sua biologia, repressões morais e sexuais, tomada
de decisão de "o que você vai ser para o resto da vida", isso, muitas
vezes dentro de ambientes completamente doentes e sem apoio algum.
Precisamos não apenas falar sobre a Baleia
Azul, mas não deixar que um jogo (ou um seriado) sejam os gritos finais de
socorro. Quando chegamos a este ponto, significa que muita coisa já foi
ignorada.
E não apenas os pais devem procurar os
sinais deixados pelo jovem (ou qualquer outra pessoa), mas amigos, professores,
colegas, pessoas do convívio social que notam ou notaram alguma mudança radical
no indivíduo.
Nós não estamos sozinhos neste mundo,
somos responsáveis uns pelos outros. Olhar ao redor pode ser o que vai salvar
uma vida, seja no literal ou no sentido romantizado da palavra.
Julgar, diminuir, questionar, por outro
lado, podem distanciar quem passar por qualquer sofrimento e causar medo em se
abrir ou informar sobre seu problema. Paixões da alma não são dramas.
É claro que a ajuda especializada é o
melhor recurso para ajudar alguém que realmente precisa, mas mostrar-se presente
pode ser o começo de um diálogo para uma melhoria lenta.
Adoecer não é bonito, curar-se é incrível
e ser parte disso é sagrado.
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